Sujeitos e Drogas: o que há de novo nesse laço?

29 junho 2020

O texto de hoje é uma colaboração da parceira e colega de rede, Ivete Miranda. É um tema importantíssimo, que é transversal a todos os temas que aparecem aqui no Cá entre nós, Psi! – CENP. Espero que enriqueça as reflexões de vocês sobre o assunto. Agradeço à Ivete pela disponibilidade de ofertar seu texto para ser publicado aqui! Quer ver mais textos sobre este tema por aqui? Conte pra gente nos comentários!

 

Sujeitos e Drogas: o que há de novo nesse laço?

Ilustração: @HibiscusArt por Laura Oliveira

 

Por: Ivete Miranda

 

A droga sempre existiu no cenário social, em cada época com um toque diferente. Desde que existe sujeito no mundo, existe uma forma de utilização dessas substâncias e seu consumo pela sociedade. Mas, como bem ressaltou Eduardo Vargas tudo que se utiliza de forma exagerada e que provoca modificações são consideradas drogas, independente de ser química ou não.

E conforme retrata a história, a fermentação ou utilização de alguma erva foi ou ainda é utilizada como fonte de sobrevivência para vários fins e não somente como consumo para embriaguez ou intoxicação, ainda que essa prática também fosse disseminada. Por isso, o tema deste artigo traz um questionamento que remonta aos primórdios e chega à sociedade contemporânea com a certeza que esse laço do sujeito com a droga não é recente. Pois, seu consumo, plantio, manipulação e/ou fabricação das diversas substâncias é cultural, transcende os muros e os tempos. E o que podemos considerar recente ou muito atual são as discussões acaloradas e polêmicas, as formas de nomearem e determinarem critérios e classificações, a política sobre drogas, dada a relevância e ênfase por todos os segmentos, principalmente através de estudos científicos e divulgações midiáticas sobre a temática.

Neste aspecto, retomo algumas reflexões extraídas de artigos do Livro: Drogas e cultura, quando aponta para o saudável amadurecimento acadêmico de pesquisas e estudos sobre drogas no Brasil, novas perspectivas desse movimento que oferece uma abordagem psicossocial e um debate condizente com o pluralismo, a diversidade e democracia (Gil e Ferreira, 2008), mas, são movimentos de avanços e retrocessos, marcados por questões polêmicas e paradoxais que o próprio tema circula. Quando não reconhece as tradições culturais, o uso ritualístico. Além de não ter uma clareza entre consumo e tráfico gerando vários desdobramentos negativos na sociedade. E quanto, ainda é preciso avançar nessas abordagens, que tendem para o reducionismo, uma visão unilateral e uma inabilidade para lidar com questões tão complexas sobre o fenômeno das drogas, quando não reconhecem outros estudos relevantes e/ou legítimo centrando apenas no tripé: medicina, farmacologia e psicologia. E coloca as abordagens sociais em segundo plano e só as considera, quando envolve crime, tráfico, violência.

Por isso, Gil e Ferreira destaca que é preciso balizar de modo mais atento e detalhado as relações entre usos, o consumo, a circulação e os direitos privados dos cidadãos brasileiros. Essa frase chama atenção para a responsabilização do sujeito pelas escolhas e outras formas de cuidado num viés multidisciplinar, não unilateral e reformulação da política.

Outro aspecto importante é a guerra às drogas, tão difundida nos tempos atuais, mas, não tão recente no contexto histórico. Essa guerra posta, por uma completa alienação ou tentativa de imprimir um poder e controle traz consequências consideráveis no cenário social. Embora contraditório e hipócrita, pois, as substâncias que são endemonizadas pela sociedade, também são produzidas e consumidas por essa mesma sociedade. Em favor do lucro e em nome de um bem estar elas são disseminadas, exemplo disso, é o consumo permitido e assustador de benzodiazepínicos e que são justificados.

Neste ponto, Simões (2008) aponta que o uso de drogas remete a tamanhas e intricadas redes de significações históricas e culturais comparáveis, e ao mesmo tempo, têm se prestado a formas extremadas de simplificação conceitual e manipulação política. E que assumiu uma preocupação central no debate público, principalmente por sua representação unilateral como perigo a saúde pessoal e coletiva e por sua associação imediata com a criminalidade e a violência urbana. Esse lugar de encarnação do mal eleva o imaginário social que sua eliminação é solucionada pela proibição e repressão. E o modelo de tratamento para as pessoas que fazem uso prejudicial seja no viés da internação, do isolamento e abstinência.

Por isso, acredito que o que há de novo nesse laço é a possibilidade de compreender o fenômeno na sua complexidade, respeitando a singularidade, ampliando as formas de cuidado numa visão multidisciplinar ou transdisciplinar, sem banalização da droga nem elevando a categoria de algoz ou de vilã. Potencializar o sujeito para que encontre outras formas de prazer e relação com a droga quando esta se faz como único laço entre eles.

Referências Bibliográficas: 

LABATE, Beatriz C…. [et al], org. Drogas e Cultura: novas perspectivas. Salvador. EDUFBA. 2008.
VARGAS, Eduardo V. O Uso de Drogas: A Alteração como Evento. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v 49 nº 2. https://drive.google.pen… Acesso em 24 ago. 2016.

 

Imagem: arquivo pessoal da colaboradora

Sobre Ivete Miranda:

Possui Graduação em Psicologia pela Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI/UEMG, com título de Especialização em Dependência Química – UFSJ, Gerontologia Aplicada – FUNEDI/UEMG, Educação Permanente em Saúde – UFRGS e Micropolítica da Gestão do Trabalho em Saúde – UFF. Ampla experiência em intervenção psicossocial, violência de gênero, idoso, criança, adolescente, em gestão de saúde mental e família. Servidora Pública efetiva atua como psicóloga no CAPS-ad do município de Itaúna, atou no CRAS do município de Divinópolis, no momento presta serviços a Polícia Civil neste município. Atualmente estou como membro suplente do Colegiado de Gestão de Saúde Mental da Região de Saúde do Centro – Oeste e da Secretaria Executiva do Colegiado – representando saúde mental Itaúna.  Contato: mirandaiaop@gmail.com

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